20 de janeiro de 2012

O Uso da Percussão

Música é arte.  O gosto pela música na vida de uma pessoa sofre constantes modificações e, ao longo das décadas, o conceito da beleza na forma musical se modifica (mas não se consolida, necessariamente).  Quem abre sua mente para algo novo vai, com a experiência e o contato, aprendendo a gostar.  A subjetividade desse assunto dificulta a análise fria do que é a beleza musical e se existe algum conceito absoluto na música.




Antes de mais nada, friamente falando, música é um conjunto de variações na vibração do ar que atinge nosso corpo -- e principalmente o ouvido.  Partindo de um ruído aleatório, a "correta" organização das frequências, a organização dos tempos em que cada conjunto de frequências múltiplas e bem definidas e a intensidade sonora definem a nossa música.  O som da música é formado, grosso modo, pelo conjunto de intensidades e frequências sonoras que impressionam nosso corpo.

Música é som que trabalha e conversa diretamente com a nossa mente.  Algo capaz de se dirigir diretamente ao cérebro é algo poderoso.  Mostram os estudos que a visão é o sentido que possui a ligação mais imediata com o cérebro, devido à conexão direta das suas redes neurais.  A audição é importante e com ela podemos compreender palavras, perceber as nuances que indicam a emoção do locutor.  Um livro contém palavras que expressam fatos e conhecimentos.  A leitura é feita com a visão, mas o mesmo texto pode ser ouvido.  Qual é a diferença?  Ouvir a bíblia pela voz do Cid Moreira ou lê-la?  Quando o locutor coloca a sua interpretação, a sua interpretação dá alma e transforma o texto, inserindo um novo contexto.  Isso pode enriquecer ou empobrecer, mas uma coisa é fato: modifica a assimilação do conteúdo.

O efeito da música que ouvimos, portanto, depende de nós (de como temos formado o nosso "tradutor interno de música", de como ela acessa nossas memórias e nossas convicções), e da execução (de quanto de emoção ou vida a música recebe de seus executantes, da qualidade sonora formada pelo tipo e qualidade dos instrumentos e destreza dos músicos, de como o arranjo trabalha com a harmonia, o tempo, a melodia e todos os inúmeros detalhes que compõem a estética musical).

Pergunta inevitável: existe, em algum grau, algum fator absoluto em toda essa subjetividade?  Resposta: eu creio que sim.  Por que?  Porque foi explicado acima que música está intimamente ligada a ordem, organização, harmonização de fatores físicos para que tenham acesso a nossa mente.  O universo é organizado em todos os níveis: das galáxias aos quarks, tudo tem muita organização e harmonia.  A harmonia que chega aos nossos ouvidos nos agrada, sempre.  Nem os roqueiros mais pesados poderiam refutar o fato de que um acorde harmônico é agradável ao ouvido.  Então existe música que acalma e música que agita.  Ponto.




E agora, e a percussão... o que faz em nós?  É um fator que deve estar presente na música, por enriquecer as possibilidades.  Se comparar uma música com bateria e uma música sem bateria, são diferentes.  Diferença é agradável. Uma música não pode ser feita por um só acorde.  A diversidade controlada, de alguma forma, gera em nós uma sensação agradável.  Se a sequência de notas for aleatória (digamos, feita aleatoriamente em computador) o resultado será desastroso.  Não havendo uma regra de formação o resultado é sofrível ou desastroso.  Havendo, entretanto, repetições idênticas, ainda que de temas sonoros agradáveis, ocorre uma saturação.  Isso ocorre com as canções simplórias.  Isso pode ser sintetizado com uma pobreza musical.  Então, se não pode ser aleatório nem repetitivo, o que sobra para uma música ter poder de comunicação é o equilíbrio.  O equilíbrio significa não utilizar um instrumento gerador de ruído (a despeito desse tipo de instrumento ser uma das ferramentas essenciais da música) ao longo de toda a música.  Tem graça registrar o som do metrônomo ao fazer a gravação de uma música?  A bateria é, no ritmo rock (isto é, na música contemporânea ocidental do século XXI), uma violação à integridade sonora da complexidade harmônica de uma música, recortando-a com ruídos do início ao fim, de forma repetitiva e quase monótona, muitas vezes intensa.  Teste ouvir todas as músicas MIDI com software que tenha metrônomo, deixando-o ligado.  A música fica contaminada.

Na igreja, a música tem sofrido gravemente com o empobrecimento pela bateria.  Quando uma música começa ao acompanhamento de cordas e sopro, e, depois, na sua metade, entra a bateria, ainda que o efeito possa ser interessante à primeira vista, analisando profundamente, o que ocorre é que a primeira parte da música deve ser classificada como uma música poderosa, ao passo que a segunda parte é a desconstrução do que foi feito pelo empobrecimento rítmico e sonoro por poluição auditiva de um padrão monótono e repetitivo, cujo intuito equivocado do arranjador era criar um momento mais "grandioso".  Existe lugar para a percussão na música, mas esse lugar deve ser limitado pela lilmitação que o próprio som da bateria tem.  Ouça solos de bateria e tente enumerar todas as emoções que transmite.  Ouça, por outro lado, solo de qualquer instrumento, seja de orquestra ou do que chamam de "banda" (entenda-se "rock").  Não há como comparar.

Se concordou com as argumentações e opiniões cima, um conselho para ser passado aos músicos que não percebem a profundidade desse assunto sobre as pessoas:  simplesmente deixe a bateria de lado e troque o "rock" por "música".   Nada se perderá e muito se ganhará.  Para não dispensar o baterista, ensine música para ele e deixe-o auxiliar com um instrumento mais útil e menos egoista (a bateria registra a maior intensidade sonora e só faz variações em ruídos).

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